Essa é uma pergunta comum em consultórios médicos, especialmente entre homens a partir dos 40 anos. Porém, a resposta pode surpreender: não existe um valor de testosterona que seja considerado “normal” exclusivamente com base na idade para homens adultos. A interpretação dos níveis hormonais deve sempre considerar o quadro clínico individual, e não apenas os números do exame.
Variação entre sociedades médicas
Um dos motivos dessa falta de padronização é que os valores de referência para testosterona total variam entre diferentes sociedades médicas. Por exemplo, a Endocrine Society propõe que o limite inferior da normalidade para testosterona total em homens seja cerca de 264 ng/dL, enquanto a Sociedade Americana de Urologia (AUA) estipula o valor de 300 ng\dL. Mas isso não quer dizer que não se possa considerar o início da avaliação clínica em pacientes com sintomas mesmo com valores discretamente mais altos. Já algumas sociedades europeias adotam cortes um pouco diferentes. Além disso, os métodos laboratoriais utilizados na dosagem hormonal também influenciam os resultados, o que reforça a importância de avaliar o paciente como um todo, e não apenas o laudo.
O papel da SHBG na interpretação dos exames
Outro ponto essencial — e muitas vezes negligenciado — é a SHBG (globulina ligadora de hormônios sexuais). Essa proteína circulante se liga à testosterona no sangue, tornando-a indisponível para ação nos tecidos e servindo como uma maneira de "estoque" na corrente sanguínea, liberando aos poucos a testosterona livre para ser utilizada. Ou seja, testosterona total é a ligada a SHBG e testosterona livre não, e essa ultima é que é utilizada pelo organismo. Em outras palavras, quanto maior o nível de SHBG, menor é a fração livre e biologicamente ativa da testosterona, mesmo que a testosterona total esteja dentro da faixa de referência.
Algumas condições que aumentam a SHBG incluem o envelhecimento, doenças do fígado, hipertireoidismo e uso de certos medicamentos. Por isso, é possível que um paciente apresente sintomas claros de deficiência androgênica mesmo com uma testosterona total aparentemente normal, caso a testosterona livre esteja baixa.
Nesses casos, a dosagem de testosterona livre calculada torna-se essencial. Essa abordagem é especialmente importante em pacientes com sintomas sugestivos de hipogonadismo, mas com testosterona total num nível de 320 ng/dL, por exemplo.
Nem sempre a idade é determinante
É perfeitamente possível — e comum — que um homem de 30 anos e um homem de 70 anos tenham níveis semelhantes de testosterona, como por exemplo 360 ng/dL, e ambos estarem dentro da normalidade. A variação individual é ampla e a queda hormonal com o envelhecimento, embora exista, não é suficiente para definir limites etários rígidos para a testosterona. Por isso, não se deve assumir que um valor mais baixo de testosterona em um homem mais jovem seja automaticamente patológico, assim como se pode ver níveis de testosterona até 600 ng\dL em homens mais velhos.
Conclusão
Em vez de buscar um valor ideal de testosterona para cada idade, o mais apropriado é avaliar a presença de sintomas e o equilíbrio entre testosterona total, livre e SHBG. O acompanhamento com um endocrinologista experiente é fundamental para interpretar corretamente os exames e indicar, quando necessário, uma investigação ou tratamento adequado.