É comum ouvir de pacientes no consultório: “Doutora, eu como pouco, mas não emagreço!”. Essa queixa, apesar de frustrante para quem enfrenta o excesso de peso, é mais frequente do que se imagina e envolve uma série de fatores metabólicos, hormonais, comportamentais e até emocionais que vão muito além da simples contagem de calorias.
Primeiramente, é importante entender que o corpo humano é biologicamente programado para economizar energia, especialmente em situações de escassez. Quando a ingestão alimentar é reduzida por longos períodos ou feita de forma desorganizada, o metabolismo pode desacelerar — um mecanismo de defesa que reduz o gasto calórico e torna a perda de peso mais difícil.
Além disso, a percepção subjetiva do “comer pouco” pode nem sempre refletir a realidade. Muitas vezes, há uma subestimação do que é ingerido ao longo do dia, especialmente quando há petiscos entre as refeições, bebidas calóricas ou fins de semana mais liberados.
Outro fator crucial a ser considerado é a qualidade das calorias ingeridas. Nem todos os alimentos fornecem os mesmos efeitos metabólicos, mesmo que em pequenas quantidades. Alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar, gordura saturada e farinha refinada — como biscoitos, salgadinhos, chocolates e fast food — concentram uma grande quantidade de calorias em porções pequenas e de baixa saciedade. Um punhado de castanhas ou um pão de queijo, por exemplo, podem parecer “pouca comida”, mas conter tantas calorias quanto uma refeição completa e equilibrada. Por outro lado, alimentos in natura, ricos em fibras, proteínas e água (como legumes, frutas, grãos integrais e proteínas magras), além de mais nutritivos, ajudam a promover saciedade com menos calorias totais. Portanto, não se trata apenas de quantidade, mas da densidade calórica e do impacto que cada alimento tem no organismo.
Aspectos hormonais também desempenham papel fundamental. Distúrbios como o hipotireoidismo (mais comumente) e alterações nos níveis de cortisol (em casos mais raros) podem interferir diretamente no metabolismo. Além disso, no período do climatério e da menopausa, muitas mulheres enfrentam uma queda natural nos níveis de estrogênio, o que pode reduzir o gasto energético basal, favorecer o acúmulo de gordura abdominal e dificultar ainda mais a perda de peso, mesmo sem mudanças aparentes na alimentação.
Outro ponto relevante é a composição corporal. Pessoas com pouca massa muscular tendem a ter um gasto energético basal mais baixo, o que significa que queimam menos calorias mesmo em repouso. Nesses casos, investir em atividade física que promova ganho de massa magra é essencial para reverter o quadro.
Por isso, diante da queixa de dificuldade em emagrecer mesmo comendo pouco, o mais indicado é buscar avaliação médica especializada. Um endocrinologista poderá solicitar exames, analisar o histórico clínico e propor um plano individualizado, que muitas vezes inclui acompanhamento nutricional, psicológico e, em alguns casos, tratamento medicamentoso.
O emagrecimento saudável não é apenas uma questão de “comer menos”, mas de entender como o organismo funciona e agir estrategicamente para equilibrar os fatores que impedem o progresso. O autoconhecimento e o suporte profissional fazem toda a diferença nesse processo.