A gordura corporal não é toda igual — e a localização dessa gordura faz uma grande diferença para a saúde. Um tipo em especial, a gordura visceral, merece atenção redobrada. Ela é aquela que se acumula ao redor dos órgãos internos, como fígado, pâncreas e intestinos, principalmente na região abdominal. Diferente da gordura subcutânea (a que fica logo abaixo da pele), a visceral está localizada mais profundamente no corpo e não é visível externamente, o que torna seu risco muitas vezes subestimado.
A gordura visceral é metabolicamente ativa. Isso significa que ela não serve apenas como reserva energética, mas interfere diretamente no funcionamento do organismo, liberando substâncias inflamatórias e hormônios que afetam processos como o metabolismo da glicose e o controle da pressão arterial. Essa atividade inflamatória constante contribui para o desenvolvimento de doenças crônicas como diabetes tipo 2, hipertensão, dislipidemias (alterações nos níveis de colesterol e triglicerídeos) e até doenças cardiovasculares.
Além disso, o acúmulo de gordura visceral está relacionado à resistência à insulina, um fator-chave para o desenvolvimento do diabetes. A presença excessiva dessa gordura também está associada a um maior risco de síndrome metabólica, um conjunto de condições que aumentam significativamente a chance de infarto e acidente vascular cerebral.
Outro ponto importante é que a gordura visceral pode afetar também o fígado, levando ao acúmulo de gordura nesse órgão — condição conhecida como esteatose hepática não alcoólica. Essa doença pode evoluir para inflamações mais graves, como hepatite gordurosa, fibrose e, em casos mais avançados, cirrose hepática.
O diagnóstico do excesso de gordura visceral pode ser feito por exames de imagem, como a tomografia ou a ressonância magnética. No entanto, outra ferramenta prática e acessível que tem ganhado espaço nos consultórios é a bioimpedância elétrica. Esse exame, realizado por balanças específicas, estima a composição corporal e fornece um índice de gordura visceral, geralmente em uma escala que vai de 1 a 20. Valores acima de 10 costumam indicar risco aumentado para doenças metabólicas, mas a interpretação deve ser feita por um profissional de saúde capacitado. No consultório costumamos avaliar a gordura visceral pela bioimpedância da Inbody.
Embora mudanças no estilo de vida, como alimentação saudável e atividade física regular, sejam fundamentais, o tratamento farmacológico da obesidade tem se mostrado uma estratégia altamente eficaz na redução da gordura visceral. Medicações modernas como Wegovy® (semaglutida) e Mounjaro® (tirzepatida) atuam diretamente na regulação do apetite e do metabolismo energético, promovendo perda de peso significativa e, consequentemente, redução expressiva da gordura visceral. Esses medicamentos são indicados em casos específicos, com prescrição e acompanhamento médico, e representam um avanço importante no controle da obesidade e de suas complicações metabólicas. Ao combiná-los com mudanças no estilo de vida, é possível alcançar melhorias duradouras na saúde e qualidade de vida e inclusive reduzir a quantidade de gordura visceral para níveis normais.